Miles Halter é um adolescente fissurado por célebres últimas palavras que, cansado de sua vidinha pacata e sem graça em casa, vai estudar num colégio interno à procura daquilo que o poeta François Rabelais, quando estava à beira da morte, chamou de o "Grande Talvez". Muita coisa o aguarda em Culver Creek, inclusive Alasca Young, uma garota inteligente, espirituosa, problemática e extremamente sensual, que o levará para o seu labirinto e o catapultará em direção ao "Grande Talvez".
Jovem Adulto || 229 Páginas || Editora WMF Martins Fontes|| Skoob || Compare & Compre || Classificação: 3/5
Miles não tem nada de especial: nenhuma garota para chamar de sua, nenhum amigo, e muito menos a mísera memória de uma noite de diversão, bebedeira ou de traquinagem juvenil. O fato é que ele está prestes a ingressar no último ano de ensino médio e, além de uma família amorosa e de seu amor pelas últimas palavras das pessoas (o que define sua paixão por biografias), nada o prende a sua vida atual. Assim, partindo do pressuposto de que a mesmice diária ele já tem, Miles decide ir atrás de um grande talvez e cursar seu último ano escolar em um colégio interno, o mesmo que seu pai frequentou, para que então talvez ele consiga tudo o que mais deseja: diversão, garotas e amigos.

Desde o começo achei a ideia do “grande talvez” de Miles o charme da história. O passo dado pelo jovem, sua busca por um novo futuro, as dificuldades de aceitação enfrentadas por ele, e o sentimento de que essa é a sua última chance para ser jovem e feliz, são elementos comuns à realidade de todo adolescente que, assim como o protagonista dessa história, precisa definir seu lugar no mundo. Desta maneira, a vida nova que Miles conquista é, pelo menos em um primeiro momento, encantadora. Ele participa de trotes escolares, faz amigos incomuns, tem suas noites regadas à bebedeira e cigarros, e conhece uma menina que muda toda a razão de sua existência, ou seja, tem seu coração abocanhado pela intensa e incompreensível Alasca.
Eu era um palerma. Ela era apaixonante. Eu era irremediavelmente sem graça. Ela era infinitamente fascinante. (...) se as pessoas fossem chuva, eu era garoa e ela, um furacão.
Temos então uma história poética, que fala sobre sentimentos juvenis conflitantes e que mostra os medos que afligem esses jovens, relatando desde seus problemas sociais até mesmo a depressão e o vício que se esconde por trás de suas escolhas. Nesse ponto eu gostei da primeira vertente da narrativa, a que mostra com demasiada veracidade o dia a dia desses jovens e que os usa como espelho da nossa juventude, porém a segunda vertente, a que foca na maneira como eles lidam com seus problemas me pareceu generalizada demais. Explicando-me melhor, digo que a narrativa é realística quando o assunto é drogas, sexo e bebidas na juventude, contudo ao mesmo tempo ela é extremista, pois trata esses assuntos com leviandade, como se tais escolhas fossem normais e comuns. Portanto, tendo em vista esse detalhe, assumo que não gostei de nenhum dos personagens principais, nem de Miles, nem de seus novos amigos e muito menos da Alasca.
Quem é você, Alasca? é um livro doloroso e dramático, entretanto acredito que por eu já saber qual era a polêmica abordada pelo autor nessa história (e consequentemente por não me surpreender com ela no decorrer da trama), tal fator não foi suficiente para me fazer gostar dos personagens centrais. Mesmo diante da dor – e mesmo após chorar lendo esse livro repleto de sentimentos intensos – mantive uma opinião negativa desses jovens que, infelizmente, escondem no álcool, no cigarro e em relações sexuais suas dores e medos. Não me entendam mal, não é que eu ache que isso não ocorra, é claro que na juventude estamos mais propícios a tomar decisões ruins, contudo não consigo aceitar a forma como isso foi descrito, como se tais escolhas fossemnormais.



“Passamos a vida inteira no labirinto, perdidos, pensando em como um dia conseguiremos escapar e em quanto será legal. Imaginar esse futuro é o que nos impulsiona para a frente, mas nunca fazemos nada. Simplesmente usamos o futuro para escapar do presente.”


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